Ideias para um bom campeonato: o problema é o dinheiro e o medo da Globo

Leonel Brizola dizia que “todo cidadão precisa ter a virtude do inconformismo”, e como jornalista, procuro exercer esta máxima sempre.

Nunca vou me conformar, por exemplo, com o Campeonato Mineiro na fórmula a qual é disputado: desinteressante para a maioria e sempre desorganizado. De novo, jogos adiados e paralização da tabela porque tem clube sem estádio em condições. Dessa vez é o Nacional de Nova Serrana.

A estreia do Cruzeiro foi adiada logo na primeira rodada; o América fica 18 dias sem jogar; ainda não se sabe onde será Nacional x Cruzeiro, dia 16; continuamos sem os juniores nas preliminares.

Na imprensa assuntos “fantásticos” como a cor da camisa do Cruzeiro, se dá sorte ou azar ou que a cor da bola do campeonato é rosa!

Tecnicamente, à exceção do América, os sparings de Atlético e Cruzeiro para a Série A nacional não somam nada.

Um importante dirigente de um dos maiores clubes me disse que também acha que já passou da hora de mudar, mas pediu-me para não revelar seu nome, porque não quer se indispor com a Globo, a dona da disputa.

Um colega respeitável da imprensa chegou a escrever-me “…realmente esse campeonato é uma piada; infelizmente ninguém vai ter coragem de mexer nisso…”, e também pediu anonimato, porque não pode se indispor com a Globo. 

A FMF nunca foi tão omissa e que ninguém espere que ela mova um dedo, porque assim está muito bom para os cofres dela.

Fiquei feliz ao receber as observações feitas através de e-mail pelo diretor de comunicação do Villa Nova, jornalista Wagner Augusto Álvares, que diz: 

“Caro Chico.

Com os meus cumprimentos, compartilho com o colega Sídney, de Teófilo Otoni, as impressões sobre o Campeonato Mineiro. Extingui-lo simplesmente, como sugerem muitos apressados que ficam em êxtase com as transmissões do futebol europeu, seria um erro crasso, que traria como consequência imediata a morte de vários clubes — talvez até do meu querido Villa Nova.

Remodelá-lo, portanto, é a saída. Para isso, o primeiro passo é romper a má-vontade e o egoísmo de Atlético e Cruzeiro. Nossos dois gigantes recebem R$5 milhões/ano da TV para jogar 15 partidas no Mineiro, o que representa R$333.333,00 por jogo.

É um valor superior ao recebido por aqueles que disputam a Copa Libertadores, segundo o próprio presidente atleticano. Já os chamados de pequenos, recebem míseros R$350 mil (o América fica num patamar intermediário e leva R$1,8 milhão).

Ora, está claro que os grandes de BH repetem no âmbito estadual aquilo que paulistas e cariocas lhes aplicam na hora de dividir o bolo da TV referente ao Campeonato Brasileiro.

Há outro problema grave: Atlético e Cruzeiro manipulam o Conselho Técnico para evitar outra fórmula de disputa que determine maior número de jogos. São 23 datas disponíveis para o Campeonato Mineiro e com 12 clubes é perfeitamente possível fazer um certame em turno e returno, formato que exigiria 22 datas.

Diante desse quadro de “vampirismo” explícito praticado pelos grandes, creio que a saída seja a realização de um torneio sem eles. O Módulo I e o Módulo II poderiam ser fundidos, já que compõem a Primeira Divisão. Os clubes do interior jogariam entre si um campeonato para se apontar quatro ou cinco times que iriam enfrentar os grandes no começo do ano seguinte, ocupando as 15 datas do atual Campeonato Mineiro. A Taça Minas Gerais poderia ser extinta e o campeão dessa fase, digamos, preliminar do Mineiro levaria a vaga para a Copa do Brasil.

A competição poderia ser regionalizada para atiçar as rivalidades locais e todo mundo teria calendário cheio o ano todo, com folga para a participação nas Séries C e D do Brasileiro. Simples. Basta ter visão e coragem para mudar.

Grande abraço, meu caro Chico, e espero ter contribuído para essa discussão tão importante.”

Jornalista Wagner Augusto

14 Responses

  1. Boa noite Chico,

    Parabéns pelo texto. Infelizmente sabemos que da para mudar mas os interesses são exagerados e todos querem “passar a perna no outro”. Gosto do futebol, e acho que a graça deste esporte esta acabando junto com a qualidade que vem sendo mostrada em campo. Como escutei em uma discursão na faculdade, o respeito é uma virtude em baixa na sociedade ao contrário do conformismo, onde sempre escutamos que “só a minha parte não irá mudar nada!” Por estes e outros motivos que continuamos sempre estáticos sem evolução alguma. Abraço! @carloscamara85

  2. Chico

    Volto a comentar sobre o assunto! Discutam formulas, maneiras, datas cotas e tudo sobre o Campeonato Mineiro; dirigentes, imprensa Ademg e mais quem interessar devem mesmo criticar e cobrar para melhorar, mas nunca discutir a ideia de gerico de acabar com ele.

    Saudações

  3. O campeonato estadual é fundamental para a vida do futebol mineiro.
    Concordo com o jornalista Wagner Augusto.Não dá para fazer times para disputar meia duzia de jogos.Nossos times do interior tem vida curtíssima durante o ano. Precisamos sim, de torneios mais inteligentes e com objetivos finais maiores. Acho ,inclusive, que é a melhor forma dos grandes de BH se aproximarem dos seus torcedores mais distantes senão, daqui a pouco estarão torcendo para os clubes do Rio e SP. É tão bom ver o Galo em Montes Claros, Teófilo Otoni, Poços de Caldas…cidades extremas e ver o grande número de torcedores alvinegros dessas localidades.Isso só fortalece a identidade do clube com o seu estado.

  4. Chico e qual seria a formula ideal para você??

    Para mim Cruzeiro e Atlético deveriam disputar a primeira fase sempre com jogos no interior e em dois grupos de 10 onde os 4 primeiros se classificam. E os mata-matas seriam disputados em apenas um jogo em cidades neutras, a final seria cada ano em uma cidade do Estado e assim todos os mineiros teriam o prazer de ver grandes jogos com os melhores times do estado.

  5. O que o Wagner Augusto escreveu já foi escrito e repetido aqui por mim e vários outros leitores. Há uns dois anos, eu escrevi o que penso do assunto, e felizmente a Internet permite-me hoje simplesmente colocar um link.

    Agora, culpar a Rede Globo por qualquer destas coisas é o mesmo que tentar culpar a BBC pelo fato da Inglaterra ainda ter uma rainha, culpar a NHK pela tsunami no Japão, culpar a RAI pela crise da Itália, e por aí vai. Antes da Globo, nos tempos da Tupi, o Campeonato Mineiro era uma maravilha? Não. E isto em um tempo em que jogadores jogavam a carreira inteira pelo mesmo clube, e com vencimentos menores do que um jogador mediano hoje consegue em um ano.

    Outra coisa: o subsídio ao futebol no Brasil é imenso! Se mesmo assim ainda dá errado, a solução não é aumentar o subsídio, mas sim procurar investigar onde está indo o dinheiro. Este negócio de ficar governo construindo estádios com dinheiro público e dando para a “iniciativa privada” (leia-se amigos do poder) tem de acabar. Ver 1 bilhão de reais gastos em um estádio ao invés de 1 milhão de reais por escola em mil escolas é algo de doer o coração…

  6. Não tem nada haver com o futebol mas achei interessante um assunto sobre o Vando, um amigo meu ja morou em Congonnhas e segundo ele o vando viveu la e tinha uma banda de nome Escaravelhos e o Vando se envolveu com uma moça filha de um fazendeiro da região e saiu de da corrido e dizem que até tentaram dar um tiro nele, apartir dai ele caiu no mudo e no sucesso, não sei se a informação procede ou não mas fica ai a curiosidade.

  7. Como fazer um campeonato mineiro rentável, se a grande maioria dos interioranos, torcem para times de outras praças. Isto vem de longe, pois a TV alienou todos os mineiros. Exemplos não faltam.
    Sul de Minas, torcem para times de SP
    Zona da Mata, torcem para times do RJ
    Triangulo Mineiro, torcem para times dos dois estados
    Norte de Minas, torcem pro framengo.
    Fica dificil, fazer um campeonato regionalizado, pois basta a globo transmitir um jogo do eixo para qualquer horário, que ganharia a concorrencia.

  8. Ótimo post! Parabéns Chico e Wagner! Também acho que a fórmula passa por isso e não dependeria da benção dos três da capital, já que em nada atrapalharia para eles. Para que essa fase regionalizada do Mineiro não seja uma outra Taça Minas Gerais (que só dá prejuízos!), porém, os clubes devem se unir na busca de financiadores/patrocinadores que arcariam com os custos da competição e, como contrapartida, além da divulgação, poderiam ter participação e/ou preferência em jogadores revelados.
    Abs.

  9. Eu acho que o maior problema dos clubes pequenos atualmente é a falta das divisões de base. Antigamente, um clube do interior montava o time principalmente com jogadores formados em casa e os melhores jogadores revelados nessas equipes acabavam migrando para os clubes maiores. Hoje, a cada início de campeonato, os times pequenos contratam uma “baciada” de 25 jogadores por 4 meses e os dispensam assim que o campeonato acaba. Há quanto tempo Cruzeiro e Atlético não têm um jogador revelado por um clube do interior de Minas? Por que estes clubes não conseguem mais montar times com jogadores formados por eles mesmos?

  10. Ronaldo Ribeiro,

    O que se discute é um calendário decente para os clubes do interior.
    A partir do momento que tivéssemos uma fase anterior somente entre os clubes do interior e regionalizada, e na qual saísse,por exemplo, 4 ou 5 classificados para se juntarem no início do ano aos clubes que disputam as Séries A, B, C e D do brasileiro, possivelmente não haveria necessidade de se aumentar o número de rodadas desta fase final.
    Com os clubes do interior tendo disputas regionalizadas, voltaria as rivalidades de clubes de cidades próximas ou da mesma cidade, além de voltarem a revelar jogadores. Atlético, Cruzeiro e América não é prejudicado em nada, e ao contrário, poderia se beneficiar das revelações de jogadores que voltariam a acontecer.

  11. Marc, é por aí mesmo. Só que antigamente existia a lei do passe que protegia os clubes pequenos de eventual assédio dos grandes pelos seus jogadores. Hoje, ela já não existe mais. A Lei Pelé foi a grande culpada por isso. O clube trabalha na formação do jogador e acaba perdendo-o sem qualquer tipo de indenização. Isso acaba desmotivando os pequenos de investirem na base. Ab.

  12. “Diante desse quadro de “vampirismo” explícito praticado pelos grandes” Vampirismo??? A dura verdade é que campeonato mineiro sem Atlético e Cruzeiro não vale um centavo. Entre 350 mil e zero, é melhor ficar com 350 mil.

  13. Parabéns Francisco Maia Barbosa Duarte e Wagner Augusto!Concordo com tudo isso,uma pena pro futebol de Minas.A solução é unica:Remodelem o Campeonato Mineiro, é a saída única.

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