Algemas nos bandidos e as razões do fim do FrenteVerso

Sou ouvinte e fã da indignação do Ricardo Boechat, todas as manhãs, na BandNews FM 89,5, de 7 às 9 hs, contra as bandalheiras e absurdos do Brasil.

Ultimamente ele tem batido pesado na postura da presidente Dilma Roussef, que não quer que a Polícia Federal algeme os bandidos presos e mostre à imprensa.

A presidente marca um gol de placa ou mandar para a rua todos os ratos que caem na ratoeira, mas pisa na bola ao querer que a imprensa não mostre os danados algemados.

Um jornal de Macapá conseguiu fotos dos presos ligados ao Ministério do Turismo e estampou na primeira página.

A reação dos políticos de quase todos os partidos foi geral. O jornal está sendo processado.

O Boechat lembrou bem: “ladrão de galinha pode, né?”

Político é que não!?

Pois a única punição que essa cambada sofre é essa: execração pública!

Daqui a pouco ninguém mais se lembra deles, por causa do escândalo seguinte, e fica por isso mesmo.

Ninguém devolve o que roubou do nosso dinheiro, e a cadeia só durou algumas horas.

Ou seja: nessa área, o crime compensa. Por isso os políticos, de modo geral, se protegem, mesmo sendo eventualmente de partidos “adversários”!

Por falar em poderosos, continua rendendo a história do fim do programa FrenteVerso, da Rádio Inconfidência FM.

Não conheço pessoalmente o Marcos Lacerda, que era o produtor e apresentador do programa, mas tive a satisfação de ser apresentado via e-mail.

Tivemos ontem o seguinte diálogo: 

“Caro Chico,  

Recebi o recado, abaixo, do Marcos Caldeira. Estou à sua disposição para o que for necessário.

Tenho grande interesse em que se divulgue esse disparate, onde o foco, a meu ver, está no modo insolente, arrogante e prepotente com que, uma vez mais, o governo mineiro trata a Cultura – e a imprensa de modo geral.

Com certeza porque a imprensa local se acostumou a ser tratada assim. 

Tudo isso pra mim é novo. Nunca vi na minha carreria, aberração semelhante: um governo achincalhado, insultado pela imprensa, intelectuais de todo o país, que se dá o direito de simplesmente ignorar esses ataques, plenamente justificáveis. Confesso que já estou de saco cheio desse assunto, mas farei tudo o que for necessário para honrar a Cultura que herdamos, entre outros, de Drummond.

Se você quiser fazer algo mais do que já fez, estou ao seu dispor. Não tenho nenhum interesse particular nessa batalha.

O FrenteVerso, pra mim, morreu, assim como morreu em mim parte do amor que eu tinha por Minas. É isso aí, meu caro.  

Grande abraço e obrigado pelo seu interesse por esse tema pedregoso.

Marco”

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* Caro Marco,

é um prazer conversar com você e parabéns pela competência e credibilidade.

No post sobre o assunto, fiquei feliz com os comentários de apoio que você recebeu e mais ainda por gente que eu nem sonhava que visitava o blog, como o Silvio Lancellotti e o Symphronio Veiga, a quem inclusive, dei destaque, ontem.

Mande um artigo sobre o assunto, por favor, abordando exatamente estes aspectos levantados por você neste e-mail.

Conte detalhes dessa história.

Alguns leitores levantaram as teses de sempre: “o Marco deve ter desagradado algum poderoso…”

Tenho um jornal semanal em Sete Lagoas, há 20 anos, e sei o que é enfrentar os “donos” do poder, sejam políticos ou econômicos. Não sei se foi um fator desses que tirou um programa tão bom do ar. Também estou curioso.

Vamos botar o dedo nessas feridas.

Grande abraço e reitero o prazer em dialogar contigo.

Obrigado,

Chico Maia

11 Responses

  1. Imprensa é um negócio engraçado, para não dizer coisa pior!

    Quando a Polícia Federal estava executando várias operações, ainda no governo Lula, havia uma campanha intensa da grande mídia (Veja, Globo, Estadão e outras porcarias) contra abusos cometidos por ela como, por exemplo, algemar presos “não perigosos”.

    Isso foi muito debatido na época da prisão de Daniel Dantas. A grande mídia, com apoio do “ministro” do STF Gilmar Mendes, se indignou e saiu em defesa dos “pobres coitados” que estavam sendo “humilhados e expostos ao ridículo” antes de serem condenado (como se colarinho branco fosse condenado no Brasil).

    Tudo indica que a grande mídia, naquela ocasião, queria apenas desviar o assunto, enquanto as autoridades comprometidas com o status quo tratavam de garantir a liberdade do banqueiro.

    Criticar a Dilma por esse motivo é uma grande incoerência.

    Eu sou a favor de tratamento igual – ou se expõe todo mundo, ou se preserva todo mundo até uma condenação de fato.

    Mas isso, no Brasil, é pura utopia. Continuaremos a ver os PPPs (pobre, preto e puta) tratados como os grandes males do país enquanto os engravatados serão tratados cheios de dedos, com direito a defesa de grandes órgãos de imprensa e ridicularização dos agentes públicos que combatem a corrupção.

    Viva o Brasil!

  2. Chico,

    Desculpe a minha ignorância e se possível me responda…

    Não existe uma lei no nosso País, que proteja aquela pessoa séria, que coloca o dedo na ferida, não ??

    Porque, infelizmente, hoje em dia a gente vê mais notícia de alguém que foi banido, por ter abordado algum assunto que incomodou o “sistema” ou algum poderoso, do que a devida apuração e se for o caso punição, daquele ou daqueles que foram tocados em suas feridas…

    Como diria Boris Casoy… Isso, é uma vergonha !

    Abraços

  3. A tese que eu levantei é a “de sempre”, Chico, porque as ações desses poderosos quando contrariados são sempre as “de sempre” também.

  4. Eu já escutei no passado entrevistas do FrenteVerso, e achei boas. Mas creio que é preciso entender que “governo” não tem que “sustentar” cultura. O governo já incentiva até demais, dando descontos fiscais, verbas a “fundo perdido”, etc. A partir do momento em que todo o financiamento de qualquer “atividade cultural” é feito 100% pelo governo, fica difícil querer isenção.

    Eu sou fundamentalmente contra governo ter rádio/tv/etc., a não ser que existam mecanismos de financiameno que garantam a isenção editorial (como ocorre com a BBC no Reino Unido). Caso contrário, viram “A Voz do Brasil”, cedo ou tarde. É preferível tentar reviver o programa com patrocinador em uma rádio comercial a voltar a depender do “beija-mão”.

  5. O FrenteVerso fazia a diferença no Rádio mineiro.Só espero que o Marco
    Lacerda não tenha joagado a toalha…
    Chico,mais uma vez parabéns por botar o dedo na ferida.Aqueles que
    fazem do jornalismo Profissão de fé não podem nunca se curvar perante
    os poderosos de plantão.

  6. Caro Chico!
    A grande diferença entre os bandidos comuns, que recebem algemas e não têm ninguém que reclame por isto, e os corruptos é que, por trás da corrupção, há sempre pessoas importantes do mundo político.

    No caso do crime comum, o bandido age sozinho ou em pequenos grupos e afeta pouca gente, ao passo que toda a Nação sofre com esses assaltos diários impetrados por políticos.

    A tática de atacar os órgãos encarregados da investigação dos casos de corrupção é uma forma de blindagem para que não se chegue aos altos escalões. Isto inclui a presidência – qualquer que seja ela, ainda que peque “apenas” por omissão .

    O câncer da corrupção ataca os pagadores de impostos e, indistintamente, os cidadãos que deveriam se beneficiar com o dinheiro que lhes foi roubado. Os corruptos merecem muito mais do que algemas em público.

    Se houvesse mesmo punição e devolução do produto do roubo aos cofres públicos, as algemas nem chegariam a ser notadas.

  7. Prezado Chico, gostaria que houvesse mais “Ricardo Boechart” na imprensa.
    Gostaria de ouvir, ler ou assistir que uma grande Marcha Contra a Corrupção reuniu milhares de pessoas em várias capitais do Brasil.
    Por que aqui se faz marcha de tudo: a favor da maconha, dos gays, dos não gays, de Cristo. Marcha evangélica, marcha católica,etc, etc, etc…
    Agora, contra a roubalheira, a corrupção, os maus politicos, o péssimo sistema de saúde, e deficitária educação brasileira, isto não. São assuntos que nós, povo brasileiro, não queremos discutir. Isto náo é problema nosso.
    Lá em Brasilia que se virem.
    E assim vai, entre um carnaval e outro, entre uma copa do mundo e outra, ou devo dizer entre um ópio e outro, vamos levando nossa vidinha, brasileiramente feliz, sem nos preocupar com o que relamente importa.
    Feliz carnaval e feliz copa do mundo pra todos.

    P.S. Chico, jamais perca seu senso crítico, pois é o que diferencia o homem, do capacho.

    Obrigado.

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