Hoje é dia de torcer pelo conterrâneo Frank Caldeira, que tentará conquistar pela segunda vez a corrida mais famosa do Brasil.

Mas a organização da prova resolveu dar uma esculhambada na premiação e agora, ao invés de entregar medalhas somente aos que completam a prova, entrega a dita cuja logo que o inscrito retira o seu kit.

Coisas do Brasil.

Sobre isso, veja que belo artigo do especialista em São Silvestre, Rodolfo Lucena, na Folha de S. Paulo, do dia 23:

“Ao entregar medalha antes da prova, organizadores mostram insensibilidade”

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE TEC E DO BLOG +CORRIDA

A São Silvestre, mais importante corrida de rua do Brasil, símbolo da dificuldade, do denodo e do heroísmo que costumam ser associados ao pedestrianismo, corre o risco de virar um exemplo do mal afamado jeitinho brasileiro (se é que isso existe).
Os organizadores do evento decidiram entregar a medalha de participação antes da prova, junto com o kit do corredor, que inclui camiseta, número de peito e chip de cronometragem. A medida, segundo a organização, foi tomada por causa de problemas de logística e para facilitar a dispersão dos participantes depois da prova.
De qualquer modo, provocou indignação em grande número de corredores, que usaram as redes sociais para reclamar. “Ri-dí-cu-lo”, disse uma tuiteira. “Palhaçada”, comentou outro. Houve ainda quem usasse de seu saber jurídico para decretar que a medida é ilegal, imoral e, ainda por cima, engordativa.
Talvez. Acima de tudo, porém, a decisão revela falta de sensibilidade e desconhecimento do espírito que anima os corredores de rua.
Ninguém corre para ganhar a medalha. Corre-se para enfrentar problemas, demonstrar valor, desafiar os próprios limites, autoconhecimento, ganhar uma aposta ou simplesmente se divertir.
A medalha não é um prêmio, pois esse é a própria corrida, mas um símbolo de esforço despendido, trabalho realizado, dever cumprido.
A regra era clara: só ganha medalha quem correu metro por metro no asfalto fumegante, queimou as panturrilhas na Consolação, suou as pitangas no Minhocão e botou os bofes para fora subindo a Brigadeiro. Só quem vai até o fim leva o ouro.
Com a nova moda da São Silvestre, basta ter pago a inscrição (de R$ 85 a R$ 95 para as vagas comuns, conforme a data da inscrição) para obter o troféu. Se não quiser, o sujeito não precisa nem aparecer na largada, na avenida Paulista, no dia 31.
É verdade que isso pode agradar a alguns. Mas será que os milhares que completarão os 15 km terão de, na festa da firma ou da família, na virada do ano, ouvir a pergunta: você fez a São Silvestre ou comprou a medalha?
Pode ser que tudo mude no ano que vem. Pelo que diz a organização, até o tradicional circuito poderá ser modificado. A grande questão é: o corredor será ouvido?

8 Responses

  1. Estao seguindo o exemplo da CBF, qualquer campeonato de bairro vale Brasileirao, Qualquer duas passadas na Sao Silvestre vale medalha. So no Brasil mesmo.

  2. Nunca vi uma bola tão fora em organização de corridas de rua quanto essa. Talvez o “cidadão não-corredor” lendo esta notícia possa tratar como frescuragem a reclamação daqueles que fazem da corrida um modo de vida. Mas para estes, conforme bem expressa o texto do Lucena, a coisa tem outra motivação. E como o evento é feito para estes, eles deveriam ser mais respeitados.

  3. o motivo é simples: eles querem fazer dessa a maior corrida do mundo, ou coisa parecida, em número de inscritos. além da repercussão para os corredores de verdade por ser a maior, ainda é uma boa fonte de lucro ter mais corredores amadores.
    mas é um tiro que pode sair pela culatra. eu por exemplo, como corredor amador, não vou em uma corrida que entrega medalha antes.

  4. Chico,

    Estas medalhas que qualquer um inscrito na São Silvestre recebe, são medalhas simbólicas.

    A São Silvestre, é um verdadeiro “Folclore” para os ilustres desconhecidos. Todo mundo já sabe que, os que a disputam profissionalmente mesmo, são poucos. Então, esta iniciativa de premiar a todos com uma medalha simbólica, é mais pro sujeito pelo menos poder falar depois “eu participei da São Silvestre”. Que é um evento que além de esportivo, se tornou cultural também.

    Todo mundo sabe que as medalhas dos primeiros colocados, atletas profissionais, são diferentes. Além da premiação ( baixa ) que há.

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