
Foto: twitter.com/SaoPauloFC
A rede mais poderosa do país fala alguma e papagaios saem repetindo Brasil afora sem conferir. Quando saiu que a renda de Flamengo 0 x 1 São Paulo foi recorde nacional, a “papagaíce” espalhou. Um atleticano atento me alertou e ainda mandou aquele quadro comparativo, em dólares, que publiquei ontem cedo aqui.
À noite, recebi do Dr. André Pelli, Delegado de Polícia de Curvelo, coluna do Rodrigo Capelo, um dos grandes especialistas em números financeiros do nosso futebol, em que ele explica didaticamente o assunto. E mais, conta um golpe da Federação do Rio no Flamengo e demais clubes, em cobrança de taxa abusiva sobre números irreais da renda de todo jogo.
Obrigado ao André Pelli. Vale a pena ler o que escreveu o Capelo:
* “Flamengo x São Paulo quebra recorde de renda! — Não, não quebrou. O recorde pertence ao Atlético-MG.”

Foto: twitter.com/rodrigocapelo
Absurdo o preço do ingresso, quase R$ 400 em média! — Também não, o tíquete foi mais barato. Um espetáculo de desinformação, com participação especial da CBF.
Primeiro, precisamos voltar ao básico: comparações de valores históricos precisam ter a inflação corrigida! Se pegarmos a receita bruta de Atlético-MG x Olimpia, na final da Libertadores de 2013, e quisermos saber qual foi a maior arrecadação, temos que corrigir. É só abrir a Calculadora do Cidadão, do Banco Central, e colocar os números.
A receita de R$ 14,2 milhões registrada pelo Atlético-MG em julho de 2013, com a inflação, hoje equivale a R$ 25,5 milhões. Este é o valor que deve ser comparado com os demais.
Senão, repito, tá errado!
Aí você me diz: mas os R$ 26,3 milhões registrados pelo Flamengo são maiores do que R$ 25,5 milhões. E aí entramos no segundo ponto, que considero ainda mais importante.
A receita bruta mostrada no Maracanã, esses R$ 26.343.300 da foto que viralizou, não existe. O que a CBF fez? Obrigou os clubes, via regulamento, a inserirem no cálculo da receita os valores cheios — como se os ingressos tivessem sido comprados sem desconto de sócios! Então o Flamengo recebe 25% da entrada de um sócio diamante, mas apresenta 100% no borderô. Qual é a receita bruta real da partida no Maracanã? R$ 16.861.141. Nada mais, nada menos do que R$ 9.482.158 foram inseridos como um “complemento contábil”, segundo o próprio borderô.
Este dinheiro não existe, mas foi inserido naquela renda bruta que apareceu no telão do estádio. Curioso é ver para quem vai parte relevante da grana.
A Ferj mordeu R$ 1.262.735 da arrecadação do Flamengo — 7,5% da receita real. O INSS recebeu R$ 843.057 — ou 5%.
Por que a Previdência Social, do governo, tem direito menor do que a federação? Coisas do nosso Brasil. Entender os números muda quase tudo o que você ouviu nos últimos dias.
Qual foi o preço do ingresso? R$ 16,8 milhões divididos por 60.390 pagantes (excluindo gratuidades, tribuna e cadeiras cativas) dão um tíquete médio de R$ 279. Caro? Pode ser. Bem menos do que R$ 400.
E eu diria para não tirar o olho da bola. Enquanto a galera discute elitização do Maracanã, cartolas das federações se apropriam de parte relevante da arrecadação – ou melhor: tiram dinheiro do seu clube e, em última instância, do seu bolso.
Pois é você quem paga. PS.: A primeira versão deste xuíte foi apagada, pois continha um erro matemático. A Ferj recebe 7,5% da receita real, R$ 16.861.141, e não da receita com o suplemento contábil, no total de R$ 26.343.300. Peço desculpas pela confusão.
* Rodrigo Capelo



7 Responses
Parecendo a Folha, só tem números e, futebol que é bom, nada.
Confesso que sempre tive essa dúvida comigo, embora nunca a tenha explicitado e muito menos publicizado. Eu achava que era implicância besta da minha parte.
Como ex-sócio torcedor do Cruzeirão (no ano que vem, na Série A ou B, se os jogos forem no Mineirão volto) já comprei ingressos a 10, 20, 30 reais. Nunca entendi como eram computadas as “rendas”. Sempre muito acima do que se imaginava, se considerarmos a quantidade de sócios torcedores e os valores praticados para estes.
Imaginando, no limite, que metade desses sócios comprassem seus ingressos e os ingressos restantes fossem vendidos para o público em geral, a renda anunciada nunca fechava. Era sempre um valor maior do que se imaginava. Nunca entendi essa matemática.
Mas começa a aparecer uma luz no fim do túnel – vou tentar resumir o que você escreveu, Chico. Confirme por favor se estou certo:
Se eu sou um sócio torcedor, e pago 10 reais por um ingresso que na bilheteria custa 200 reais, a CBF, o INSS e a Federação Mineira consideram que o ingresso pago foi de 200 reais ? E cobram imposto em cima desse valor ?
Se é isso, qual é a base legal ? Tem algum tipo de resolução, lei, decreto, que discipline isso ?
Me esclareça, por favor. Mas que tem algo cheirando mal nessa história, ah isso tem.
Mas agora a explicação começa a aparecer. Quer dizer que, segundo a CBF, se eu pago um plano de sócio torcedor (para qualquer clube, esse comentário não é depreciativo a nenhum adversário), o ingresso que eu compro a 20 ou 30 reais é computado como se fosse um ingresso cheio ? Como assim ? Por quê ?
A renda que os clubes conseguem com sócios torcedores é deles exclusivamente, na minha opinião. Se algum clube vende 40 mil ingressos a 10 reais cada um, por exemplo, a renda desses 40 mil ingressos é 40.000 x 10 = 400 mil reais, e ponto final.
Que tamancada hein kkkkkkk
A Matemática do time dos banqueiros de MG para segurar este recorded está ficando divertida!
Chico, não entendi p… nenhuma, só dei que o Cheirinho dançou
Pessoal brigar até por causa de renda de jogo !?
Se sobrasse algum no meu bolso, eu até toparia entrar nessa. Mas….
Vejamos, uma renda de 17 milhões é declarada como sendo de 26 milhões, e esse valor maior sai na imprensa, no fisco, na contabilidade do estádio. Supondo, hipoteticamente, que alguém quisesse enfiar 9 milhões de grana suja nessa conta, passar pelo fisco, e depois pegar de volta os 9 milhões … tcharam! dinheiro lavado, legalizado, fácil. Mas é claro que ninguém faria isso, é só uma suposição minha…
E para continuar no campo das hipóteses, vamos assumir que isto começou agora. Jamais antes na história deste país…