João Leite e Everson em dia de homenagem ao ex-goleiro pelo Atlético na Arena MRV – Foto: Pedro Souza/Atlético
De repente boa parte da imprensa do mundo “descobre” que o goleiro russo Matvei Safonov que pegou quatro pênaltis do Flamengo tinha uma toalha onde guardava uma “cola” mostrando em que canto os batedores do time carioca chutavam. Um “espanto”, como dizia o saudoso mestre Rogério Perez.
Pena que até a imprensa brasileira está encarando isso como uma novidade fenomenal. Memória curta, certamente seletiva, já que não faz tanto tempo assim, que João Leite era reconhecido como o maior defensor de penalidades do Brasil, não por coincidência ou “sorte”.
Nos anos 1980 não havia telefone celular ou internet. Poucos jogos eram transmitidos ao vivo pelas TVs e a dificuldade de informações eram enormes.
Profissional astuto, curioso, João Leite se virava no telefone fixo, colecionava recortes de jornais e revistas, perguntava para repórteres, comentaristas e amigos sobre detalhes dos adversários que enfrentaria em qualquer partida. Do Campeonato Mineiro aos jogos internacionais do Atlético e seleção brasileira, que ele também defendeu.
Se não tivesse se tornado vereador, deputado estadual e Secretário de Estado, teria sido treinador, e certamente, dos melhores, pois era muito detalhista e prestava atenção em tudo e todos no futebol.
No dia 13 de agosto de 1987, no estádio lotado da bela e ensolarada San Remo, cidade italiana dos grandes festivais de música (onde Roberto Carlos foi o vencedor em 1968), o Galo tacou 3 a 0 no Torino, que era um dos melhores times da Itália naqueles tempos. Quando o jogo estava 0 a 0, o Atlético tomando um sufoco danado, pênalti para o Torino. Polster, 1,87 de altura, 23 anos de idade na época, maior artilheiro da história da Áustria, partiu pra cobrança com sua vasta cabeleira. Porrada no canto direito, rasteira, quase rente ao poste. João Leite voou e espalmou. O jogo terminou 3 a 0 para o Atlético.
Terminada a partida, eu, repórter da Rádio Inconfidência, perguntei ao João:
_ E aquele pênalti? Um chute tão forte, no canto. Você escolheu o lado pra pular ou prestou atenção no movimento da corrida daquele grandalhão pra chutar? _ Maia, Maia, nada disso. É o Polster, Maia! Centroavante da seleção da Áustria. Normalmente ele bate naquele canto e rasteiro. Você não tem visto a seleção deles jogar?
Impressionado com a segurança do João na informação e constrangido pela minha desinformação como repórter, aprendi a lição e a partir daquele jogo comecei a prestar mais atenção nos detalhes de toda partida que assistia, para repassar aos meus ouvintes.
Também, a partir deste exemplo do João, uma geração de grandes goleiros pegadores de pênaltis brotou no futebol brasileiro. Nos anos seguintes, uma nova oportunidade de trabalho se abriria nas comissões técnicas dos clubes: os estatísticos, monitores de desempenho, hoje chamados de “scouts”.

À esquerda, Marcos Russo, da Rádio Inconfidência, Jairo Gomes, vice-presidente do Villa Nova, eu, da Rádio Capital e João Leite, durante a paralisação de um clássico Atlético x Villa, no Mineirão, início dos anos 1980.

Polster, nos tempos do Torino, em foto do ilfattoquotidiano.it. Defendeu a seleção austríaca de 1982 a 2000. Disputou as Copas do Mundo de 1990 e 1994.
Quando parou se tornou músico profissional, gravou músicas de sucesso, tem uma banda, e voltou ao futebol como treinador.
Atualmente está com 61 anos de idade e suas músicas podem ser ouvidas no Spotify e Apple Music.

No dia 11 de agosto deste ano, João Leite contou essa e outras ótimas histórias no bate-papo comigo e com o Régis Souto, em nosso podcast Prateleira de CimaOficial. Está lá no YouTube.
Só acessar!
Parte 2
— Chico Maia (@chicomaiablog) December 19, 2025
De repente boa parte da imprensa do mundo “descobre” que o goleiro russo Matvei Safonov que pegou quatro pênaltis do Flamengo tinha uma toalha onde guardava uma “cola” mostrando em que canto os batedores do time carioca chutavam. Um “espanto”, como dizia o saudoso mestre… pic.twitter.com/mjRnnbbSMI


