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Antigamente recorríamos às colunas de TV e entretenimento para saber das novidades do rádio, TV, revistas e etecetera e tal.

Agora é nos portais e colunas de economia e negócios.

Com o surgimento do celular, internet e tantas opções da tecnologia, esse mundo virou de cabeça pra baixo e a todo momento aparece uma novidade.

Ninguém sabe direito nem como se pronuncia o nome do canal DAZN (segundo o Rômulo Righi é “dazon”), que desde 2015 costuma dar o ar da graça, mas ainda sem dizer a que veio. Na Copa do Mundo de Clubes ele é soberano e está oferecendo “de graça” as transmissões e toda informação do torneio, em excelente qualidade geral, diga-se, via telefone, desk-top e tal.

Recorri ao InfoMoney, portal do mundo dos negócios, para saber qual é a desse povo, que está investindo 1 bi de dólares só em direitos de transmissão pagos à FIFA para ser o “dono” do, também experimental, Mundial de Clubes 2025.

Esclarecedor texto do Eduardo Mendes, publicado dois dias depois da abertura. Longo, porém, vale a pena ler até o final.

* “Mundial de Clubes coloca DAZN à prova: será o “Spotify do Esporte” ou um bilhão mal gasto?”

Com investimento bilionário em direitos e gratuidade total no app, DAZN arrisca reputação, tecnologia e modelo de negócios

Eduardo Mendes

Entre 2020 e 2023, a DAZN acumulou US$ 6,2 bilhões em prejuízos. Sir Leonard Blavatnik, seu principal investidor, injetou outros US$ 827 milhões no início deste ano, elevando o total aportado para US$ 6,7 bilhões.

É o custo de um projeto com ambição quase mitológica: transformar o streaming no “Spotify do Esporte” e criar, a partir dele, um grupo de mídia de US$ 200 bilhões.

A analogia com o Spotify não é nova. A campanha inaugural da DAZN, em 2018, usava justamente o slogan “Spotify for Sport”. Mas, seis anos depois, o serviço ainda não estava no radar da FIFA como parceiro preferencial.

Nos EUA e no Reino Unido, onde foi fundada em 2015, a DAZN continuava sendo mais conhecida por noites de boxe e eventos pay-per-view. Em mercados como América do Sul e África, como relatou o The Athletic, ainda é desconhecida para milhões de fãs.

Essa percepção pode mudar com o novo Mundial de Clubes da FIFA, cuja edição reformulada estreou no fim de semana.

Laboratório de estresse em tempo real

Com um aporte de US$ 1 bilhão para os direitos globais do torneio, a DAZN transformou o evento em um laboratório de estresse para sua operação. O torneio, com 32 times disputando 63 partidas entre 14 de junho e 13 de julho, é transmitido gratuitamente mediante registro na plataforma.

A aposta está na conversão: segundo o blog HalfTime, a expectativa é que entre 5% e 8% dos espectadores se tornem assinantes pagos nos seis meses seguintes.

Audiência à parte, a DAZN segue o manual das mídias sociais para sustentar sua estratégia. Cada usuário registrado entrega dados — e-mails, dispositivos usados, padrões de consumo — que podem ser monetizados com publicidade, e-commerce e apostas.

Uma prática semelhante à das plataformas como TikTok, com quem a DAZN firmou parceria exclusiva para conteúdo ao vivo e bastidores do torneio. O acordo inclui um hub na rede de vídeos com destaques, reações e criadores mobilizados para engajar o público mais jovem, especialmente aqueles que não consomem esportes pelas vias tradicionais.

Nos próximos 30 dias, a DAZN buscará validar três teses:

  1. Tecnologia: suportará picos de audiência sem falhas?
  2. Modelo freemium: dados valerão o custo da gratuidade?
  3. Atração de massa: convencerá fãs casuais a assistir jogos de menor apelo?

Conversão ou colapso?

O otimismo, no entanto, pode esbarrar em números concretos. Embora o streaming esportivo tivesse cerca de 300 milhões de clientes mensais em todo o mundo em 2023, o Financial Times mostrou em janeiro que a empresa ostenta apenas aproximadamente 20 milhões de pagantes — e depende fortemente do financiamento contínuo da Access Industries, o braço de investimentos de Blavatnik.

A rede de distribuição híbrida — com sublicenciamentos [medium.com] para canais como TNT (EUA), Channel 5 (Reino Unido), Globo e CazéTV (Brasil) — alivia parte do risco financeiro e garante maior capilaridade.

Ainda assim, o conteúdo é centralizado no aplicativo da DAZN, gratuito para quem se cadastrar — e com uma versão paga, em Full HD e menos anúncios.

No fim, o “free-to-watch” vira armadilha, e escapar da enxurrada de comerciais custa caro: £ 24,99 por mês no Reino Unido e US$ 19,99 nos EUA.

A estreia do torneio repaginado coincide com o “ano transformador” citado pelo CEO Shay Segev como um ponto de virada. A receita projetada para 2025 é de US$ 6 bilhões, o dobro de 2024.

Em entrevista ao The Athletic, Pete Oliver, diretor executivo da DAZN, admitiu: a aposta é “difícil de mensurar, mas com potencial gigantesco”.

Um triângulo de interesses com a Arábia Saudita

A DAZN ainda carrega um passivo operacional significativo. Em abril, a SURJ Sports Investment — ligada ao fundo soberano da Arábia Saudita — comprou uma fatia minoritária (estimada em um dígito percentual) por US$ 1 bilhão.

No papel, o movimento estreita laços entre a DAZN, a Arábia Saudita — sede da Copa de 2034 — e a própria FIFA. Um triângulo de interesses, como definiu o especialista Pierre Maes ao The Athletic:

“É conveniente para a FIFA. Vendem a uma emissora que pode distribuir para o mundo todo e ainda atuar como agência.”

A FIFA, afinal, precisava diversificar seu fluxo de receitas. Até aqui, a entidade dependia quase exclusivamente da Copa do Mundo masculina, como mostrou o HalfTime.

Em 2022, arrecadou US$ 5,7 bilhões. Em 2023, sem torneios, a receita caiu para US$ 1,1 bilhão. Para 2025, a previsão era de US$ 483 milhões — que, com o novo Mundial de Clubes, foi revisada para US$ 1,953 bilhão.

Para 2026, com a Copa nos EUA, Canadá e México, o número deve saltar para US$ 8,9 bilhões, segundo o Sport Business Journal.

Além do impacto financeiro, a FIFA amplia seu ciclo comercial e reduz a dependência de um único evento. Conforme apontou o Halftime, o torneio também serve como moeda política: as receitas extras vão para programas de solidariedade — cruciais na hora de garantir votos no Conselho.

O futuro (ou fracasso) da “única plataforma global do esporte”

O novo Mundial de Clubes reforça uma colaboração de bastidores entre a DAZN e a FIFA. A proximidade institucional, porém, não assegura o sucesso da plataforma em sua outra ambição: tornar-se a única marca global dedicada ao esporte.

Como lembrou o The Athletic, a Netflix já garantiu os direitos globais da Copa do Mundo Feminina de 2027 e 2031. A Disney, por sua vez, tirou da DAZN a Liga dos Campeões Feminina da UEFA para a próxima temporada, em um sinal claro de que gigantes do streaming seguem interessadas em explorar esportes ao vivo.

Um fracasso da DAZN nos EUA pode significar perdas acumuladas próximas de US$ 8 bilhões, desvalorização frente a concorrentes como ESPN+ e Paramount+, e dependência permanente de resgates bilionários.

Blavatnik está, por ora, disposto a continuar apostando. Seu patrimônio pessoal, estimado em US$ 26,5 bilhões, oferece fôlego acima da média. Mas paciência de bilionário também tem limite, e a DAZN não pode errar neste novo ensaio sobre o futuro do esporte como produto de mídia.

https://www.infomoney.com.br/colunistas/convidados/mundial-de-clubes-coloca-dazn-a-prova-sera-o-spotify-do-esporte-ou-um-bilhao-mal-gasto/

One Response

  1. Chico: para a pronúncia, pense no que em Inglês seria “A área”, que vira “da zone”, numa tradução mais literal para Russo (lembre da origem do dono).

    Para a FIFA, tem sido uma beleza. Os fãs de quase todos os times estão fazendo “barulho” em lugares famosos e gerando vídeos em redes sociais. Com a DAZN sendo uma “Bandeirantes” das negociações, eles tem um competidor para as negociações com as “Globos” (ESPN, Paramount, Netflix, YouTube TV), todas interessadas em terem eventos ao vivo.

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